domingo, 22 de novembro de 2015

União Europeia - a redoma de vidro


Não vale a pena esmiuçar ainda mais a tragédia de Novembro em Paris, tudo tem sido descrito, inúmeras vezes ad nausea, pelos media e nesta semana que passou desde o acontecimento o número de inocentes mortos por terroristas e por aqueles que os combatem provavelmente duplicou o de França. Assim tem sido há décadas e no ano anterior àquele em que nasci, durante o Verão de 1972, um ataque terrorista nos Jogos Olímpicos na Alemanha, em Munique, dizimava  a delegação de Israel a tiros de Kalashnikov, tal como em Paris dali por quarenta e três anos. Seria o principio de uma guerra que dura até hoje, já bem dentro do século XXI.


Comentar as redes sociais é igualmente infrutífero e entre manifestações de solidariedade e outras de repudio com a mesma (como a bandeira de França no Facebook), sobressai o efeito final que o terrorismo pretende, aterrorizar e dividir...


Temos medo quer queiramos quer não, ninguém se sente mais em terra firme quando no coração da Europa se massacram inocentes numa noite de Sexta-Feira, em cafés e bistros, nas ruas, num concerto musical. Imagens de explosões, tiros e sangue no centro da "cidade das luzes" num ano que começou com terrorismo - Charles Edbo em Janeiro - e que parece querer acabar com terrorismo expõe a redoma de vidro, um bonito globo de neve, em que se tornou a UE e grande parte da sociedade ocidental alheia aos conflitos violentíssimos e condições de vida miseráveis fora das suas fronteiras mas ali apenas a duas ou três horas de avião.

De um momento para o outro põe-se em causa o Espaço Schengen e as consequências da livre-circulação de pessoas e bens no continente europeu, o multi-culturalismo passa a ser conotado com o "Politicamente Correcto" que passa a ser por sua vez considerado"pouco correcto" quando se chega à lógica conclusão que não haver um controlo efectivo de quem nos visita e de quem pede asilo politico, seja refugiado ou apátrida é obviamente uma falácia da omnipotente e omnipresente União Europeia mais dedicada aos negócios numa espécie de autismo.

Deixem-me ser claro.  Nós pretendemos combater o ISIS enquanto combatemos Assad na Síria, apesar do ISIS combater contra Assad na Síria e, os russos, pretendem auxiliar a Síria em combater o ISIS, portanto, temos de combater a Rússia para os prevenir de combaterem com a Síria contra o ISIS. Se tudo isto lhe parece insano, é porque o é.

Os extremistas são uma indesmentível realidade do Islão moderno e o interesse das grandes potencias europeias, dos EUA e da Federação Russa nos recursos desses países sempre os manipularam habilmente como alavanca para agendas politicas e controlo do petróleo, gás e dos pipelines que transportam os mesmos para as refinarias das corporações petrolíferas e em ultima instância para os combustíveis que usamos no dia-a-dia nos nossos carros e transportes. 

Por algum motivo se estima que o Daesh ou ISIS tenha triliões (escrevo bem, triliões) de dólares obtidos pelos lucrativos negócios  com o crude e petróleo que agora estão sob controlo dos outrora denominados "rebeldes" - aqueles que muitos apoiaram quando liquidaram ditadores como Sadam Hussein no Iraque, Gaddafi na Líbia e agora Bashar Al-Assad na Síria. 

Molenbeek na Bélgica. que agora pretendem baptizar de "capital Jihadista da Europa", Malmo na Suécia, Marselha e outras grandes cidades francesas e também Londres e Manchester no Reino Unido chegaram ao cúmulo de terem organizações islâmicas extremistas literalmente a conspirar contra o que eles intitulam de "decadência do Ocidente", hábeis em encontrar as vulnerabilidades do sistema europeu no controlo da emigração e vigilância de potenciais células terroristas.

Esta guerra não irá ter um fim tão cedo. Por cada atentado na Europa e na América cairão mais bombas com o suporte público, de vingança pelo que entendemos como tentativa de destruição da sociedade ocidental fazendo outras vitimas e sobreviventes que provavelmente irão dedicar a sua  vida a combater os "infiéis" que um dia lhes destruíram a infância, a juventude, a família, quem sabe o amor das suas vidas. Não terminará enquanto houverem interesses obscuros em que a mesma continue a rugir, enquanto continuarmos dependentes de combustíveis fósseis e da ambição desmedida daqueles envolvidos no negócio mais corrupto e indecente da História da humanidade. 

Todos queremos uma solução para este problema e cada vez mais parece distante uma que seja pacifica para a resolução do mesmo. Bombas em avião russo com destino ao centro das actividades do ISIS, na cidade de Rakka na Síria, onde se lê escrito a marcador "por Paris".


Os próprios islamitas parecem se dividir cada vez mais, especialmente os que agora vivem na Europa e porventura talvez entre eles próprios. Com a sua cooperação  talvez consigamos extirpar a tempo o cancro em que se tornou o extremismo-islâmico. Se de facto o Islão é a "religião do amor" cabe também àqueles que a praticam de o por em prática e de provarem aos cépticos, antagonistas e aos que a actualmente a odeiam que estamos no mesmo lado da barricada. 






quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O Mini metralhado durante o PREC


Lisboa, 12 de Março de 1975. O 25 de Abril de 1974 estava a semanas de completar um ano, tinham sido onze meses de um turbilhão político que estava longe de acabar. Eram os tempos do PREC (Processo Revolucionário em Curso), das siglas MFA, COPCON, RALIS, dos epítetos de reaccionários e fascistas a quem não alinhasse o diapasão com a esquerda comunista. Começava a descolonização e desmantelamento do Ultramar, os saneamentos, as nacionalizações e as perseguições politicas; dali por meses o país estaria a passos de uma guerra civil. A ideia romântica que durante décadas muitos tentaram passar de  uma revolução sem sangue, não passou disso mesmo, de uma ideia... 



Cercado pelos soldados do RAL1 o Mini com dois civis arranca depois de um momento de tensão entre populares que seguiam os militares e os ocupantes do pequeno carro que ali teriam parado para espreitar a destruição causada pelos aviões do Governo ao quartel situado entre os Olivais e Portela de Sacavém. 


Uma morte escusada

Nesse dia 12 de Março o cidadão António Ramalho Fialho e a passageira do Mini (com matricula de 1966, DE-73-42), Conceição Santos, foram literalmente executados a tiros de G3 na Avenida Alfredo Bensaúde pela então denominada "Unidade Vermelha" do RALIS (RAL1 ou Regimento de Artilharia Ligeira 1) que estava, nesses tempos, ligado a elementos da esquerda militar revolucionária.

O acontecimento foi, na primeira década da democracia portuguesa, divulgado publicamente na França e em outros países europeus sendo mostrado posteriormente pela RTP em documentários sobre o 25 de Abril e o contra-golpe abortado do 25 de Novembro de 1975.

Mal arrancou alguns dos militares disparam as metralhadoras G3 na direcção do veiculo, com transito do outro lado da avenida, para gáudio de alguns dos populares que começam a aplaudir e aos vivas. 

Pouco se sabe o que levou ao desfecho trágico mas várias fontes na Internet mencionam que António Fialho, por curiosidade, teria parado perto do quartel do RAL1 para ver os estragos feitos no dia anterior, a 11 de Março, pelos bombardeamentos e rajadas dos aviões T-6 das forças leais a Costa Gomes que havia substituído o General Spinola em Setembro de 1974.

O ataque ao RALIS, por parte da Força Aérea e dos "páras", havia causado um morto - o soldado Joaquim Carvalho Luís - e provocado meia-dúzia de feridos além da destruição de grande parte das instalações. Foi um acontecimento mediático e fez correr muita tinta na imprensa da época, na rádio, e havia passado no Telejornal da RTP, até então o único canal televisivo nacional. 


A euforia dá lugar a momentos dramáticos e pânico quando os soldados e possivelmente alguns oficiais se apercebem que mataram um dos ocupantes e feriram outro. 

A dada altura e por motivos ainda a hoje desconhecidos terá ocorrido uma altercação entre os populares que acompanhavam os militares do RALIS e António Fialho que seria insultado entre vaias e gritos de Fascista! Fascista! Algo que se havia tornado corriqueiro no Portugal do PREC e nos anos seguintes até bem ao início da década de 80.

Naquele ínterim os ânimos exaltaram-se ainda mais e alguns soldados mandaram arrancar o carro. No arranque súbito do Mini um tiro foi disparado seguido por uma saraivada de tiros que não atingiria apenas os pneus. Não dá para determinar quem disparou  primeiro e porque motivo os outros militares seguiram-lhe o exemplo.

A filmagem não parece obedecer a uma ordem cronológica e está editada - eventualmente para não mostrar as cenas mais chocantes - mas neste momento é notório que um dos ocupantes se encontra com vida, possivelmente à espera de uma ambulância.  

No espaço de uns 40 ou 50 metros o pequeno automóvel imobilizou-se na berma do passeio ao som dos vivas e aplausos da populaça enquanto os militares, visivelmente tensos e nervosos, tentavam acalmar os ânimos correndo na direcção do veiculo para verificar o estado dos ocupantes. O condutor alegadamente terá tido morte imediata sendo retirado pelo lado do passageiro e levado a braços pelos militares tal como Conceição Santos que também foi alvejada mas felizmente sobreviveu.

Uma equipe de televisão francesa, que fazia a cobertura os acontecimentos do 11 de Março, terá filmado e mais tarde divulgado no estrangeiro o trágico acontecimento. Foi desse modo que a morte de António Fialho ficou registada e por isso não é totalmente esquecida, especialmente nesta era de informação em que nos encontramos.

Da vítima apenas se sabe o nome e o veículo que conduzia. Quem foi, o que fazia, de onde era e onde foi sepultado não se sabe.

Uma imagem vale mais que mil palavras... 

Ficaria imortalizada para a posteridade a imagem do vidro traseiro e do para-brisas estilhaçado pelas balas de G3 vendo-se um galhardete do Benfica pendurado no espelho retrovisor. No final um desbocado popular comenta "estes já não fazem mal a ninguém".

40 anos passaram sem que se fizesse justiça sobre esta morte escusada e pelos ferimentos em Conceição Santos que provavelmente viveu com sequelas físicas e psicológicas desde aquele dia.

O caso chega aos tribunais 

Em Dezembro de 1975 dois militares seriam condenados a 10 anos no cárcere e um a 2 anos pelo crime mas em 1976 a pena seria anulada sem que se saibam, até hoje, mais pormenores dessa, no mínimo estranha, decisão judicial.

Que António Ramalho Fialho descanse em paz. Haverá sempre quem se recorde dos seus últimos momentos e que não deixe esquecer a sua memória.

Se algum familiar ou amigo da vitima ler este artigo por favor deixe o seu testemunho ou contacte-me por mensagem privada. Gostaria que a vida de António Fialho fosse conhecida não apenas na sua tragédia pessoal conhecida pela filmagem de 1975. 

Fontes: 

http://observador.pt/especiais/foi-ha-40-anos-o-dia-a-dia-de-lisboa-no-caldeirao-do-prec/

http://150anos.dn.pt/2014/09/30/o-golpe-spinolista-de-11-de-marco-de-1975/

https://l.facebook.com/l.php?u=http%3A%2F%2Fwww.publico.pt%2Fpolitica%2Fnoticia%2Frtp-revisita-o-prec-em-185-minifilmes-diarios-de-1-minuto-1688879&h=QAQGHy0pL


quarta-feira, 20 de março de 2013

O avião engolido pelas areias do Saara


Dizem alguns que o deserto é como uma entidade viva, engole sem apelo nem agravo quem lhe fizer frente e devolve quando bem lhe apetecer. Foi o que aconteceu há mais de setenta anos no Saara egípcio com o Sargento britânico da RFA, Dennis Copping e o seu malogrado avião P40 Kittyhawk. Tal como a estória do Pontiac Boneville que reapareceu numa praia da California - podem ler aqui neste blogue - este avião de combate é também uma cápsula do tempo.


Engolido pelas areias do deserto este pequeno avião de combate da RAF só em 2012 foi devolvido junto com o seu malogrado, e jovem, piloto que teria 94 anos se fosse vivo.

Corria o Verão de 1942, em plena II Guerra Mundial, quando o Sargento britânico teve como missão transportar o seu P40 danificado de uma base militar no Norte de África para outra. A fuselagem do pequeno avião a hélice apresentava-se bastante danificada (está crivado de balas) e necessitava de uma intervenção.

Supõe-se que por avaria mecânica acabou por cair nas areias do Saara egípcio. O piloto terá sobrevivido ao impacto a julgar pelos restos do paraquedas encontrado junto ao aparelho e pelo pequeno radio de transmissões e bateria deixado ali perto mas os ossos de Dennis Copping (na altura um jovem de vinte e quatro anos) foram encontrados nuns rochedos a cerca de cinco quilómetros do local do acidente. A descoberta foi acidental. Um engenheiro polaco que procedia a prospeções de petróleo na área encontrou o P40 em muito bom estado de conservação. O achado terá estado setenta anos debaixo das escaldantes areias e como em muitos outros casos só uma tempestade de areia expõe estórias ocorridas décadas antes, por vezes séculos.

Neste caso o deserto foi o agente protetor. O avião tinha ainda munições por disparar e os instrumentos, com exceção de um dos horizonte artificiais, estavam intactos. Por motivos de segurança as autoridades egípcias removeram os cartuchos enquanto que a embaixada do Reino Unido procedeu à pesquisa dos restos mortais do seu militar. Testes de ADN estão agendados e a família espera fazer-lhe um funeral e oferecer-lhe uma campa para o homenagearem.


O piloto Dennis Copping pouco tempo antes da missão que lhe seria fatal.

A família atual do malogrado piloto recebeu a noticia da descoberta com consternação apesar das décadas que passaram. Dennis era muito querido entre a sua família e os seus pais, em 1942, receberam a chocante noticia do desaparecimento do seu filho com a informação que estava desaparecido em combate. Dennis terá morrido solitariamente de desidratação no sol escaldante e a mais de trezentos quilometros da civilização.


Praticamente intacto o P40 da RAF artilhado com metralhadoras para combate.

Mais um mistério que se resolve ao contrário de tantos outros, ainda por explicar, como, por exemplo, o destino dos pilotos e aparelhos do Flight 19 no Triângulo das Bermudas.




sábado, 12 de janeiro de 2013

Bonnie a pequena grande cadela



Esteve na família durante dezassete anos, deixei-a em Portugal, ao cuidado da minha mãe, em 2004. Anteontem recebi por telefone a notícia que a Bonnie já não está mais connosco. A idade e as maleitas retiraram-lhe quase toda a qualidade de vida que tinha e o veterinário já nada mais podia fazer para lhe dar uns meses da mesma, quando muito apenas cuidados paliativos para lhe prolongar o sofrimento e as dores que um cancro lhe infligiam. No passado dia 10 morreu serenamente e vai deixar-nos muitas saudades.

A Bonnie a desfrutar o sol português numa das nossas belas praias.


Trouxe-a para casa dos meus pais em 1995 a pedido de uma ex-namorada amiga dos animais e também porque não suportei a ideia de ver um bicho tão pequeno abandonado à sua sorte, a abrigar-se da fria chuva minhota debaixo de um Renault 9. Estávamos em São Martinho do Vale, em Vila Nova de Famalicão. A primeira vez que vi a Bonnie foi a partir da janela do meu Fiat 128 SL; adorei de imediato aquela cabecinha pequena com um focinho curto, olhos grandes e "nariz de botão" como dizia o meu pai.

Baptizada de Bonnie Maria no mesmo dia foi prontamente limpa de parasitas e lavada. O meu pai que gostava de animais mas não os queria em casa - não gostava da ideia de um dia os ver morrer - foi peremptório - Não quero esse cão aqui em casa! A Bonnie abanando a sua cauda vigorosamente e indo atrás dele todo o tempo conquistou-o em poucas horas. Ficou connosco até 2013 naquela casa onde já não vive o Ricardo, onde a namorada deixou de o ser e vivendo mais dez anos do que o meu pai, poupando-o do desgosto que ele tanto receava. 

A minha mãe é a verdadeira heroína desta longa história da cadela Bonnie. O bicho apesar de ser novo quando adoptado já vinha com problemas na coluna vertebral fruto de alguma agressão ou atropelamento sofrido, ficou com as patas traseiras praticamente paralisadas em 1999 e o ajudante do veterinário da Câmara Municipal (esse matador) prontamente se ofereceu para abater o cão, tudo dito a riso, ao típico estilo com o típico desdém que o matador tem por os bichos. Viramos-lhe as costas para sempre e com muita paciência e carinho foi-se fazendo terapia, primeiro deixá-la caminhar dentro de água na banheira e depois pondo um pano por baixo da barriguinha de modo a que pudesse fazer as suas necessidade e ao mesmo tempo caminhar. Alheios aos risos e comentários de alguns vizinhos mais embrutecidos fomos determinados e a Bonnie recuperou a locomoção para grande espanto dos veterinários.

Depois os anos passaram; o namoro com a miúda que nos trouxe a Bonnie acabou, fui para a Polónia em Erasmus e regressei a Portugal. A Bonnie sempre feliz por me ver, mais tarde aceitando de bom grado a então namorada polaca que, nesse tempo, tinha pavor de cães. Foi uma terapia para ela e desde então perdeu todo o medo aos amigos caninos, de tal modo que até adoptamos uma cadela na Polónia.

Os anos passaram e as maleitas sucederam-se. Problemas de rins que acabaram numa caríssima operação de 1000€ e dieta especial, hérnias na coluna vertebral, um atropelamento sem grande consequências excepto o óleo de motor que lhe sujou o pelo e lhe pregou um grande susto por ficar debaixo do carro, um gato que a cegou de uma vista e por fim a idade que a alquebrou. Nunca a minha mãe desistiu, levando-o para todo o lado (excepto para a Polónia por motivos óbvios). A Bonnie ia frequentemente para Lisboa com a minha mãe e também para o Algarve. Andou na praia e nas quentes areias da nossa costa, de carro e de comboio.

A minha progenitora com a Bonnie na praia. Viveu mais do que aquilo que todos pensávamos, surpreendeu veterinários e respectivos ajudantes e é exemplo para outros que têm animais com problemas de locomoção.  O cão é de facto o melhor amigo do Homem.

 Não pude estar ao lado dela nos seus últimos momentos, a emigração tem destas coisas e aprendemos a viver com a distância medida em horas de voo ou quilómetros de auto-estrada. Construimos, consciente ou inconscientemente, um muro que nos protege das saudades. Esta é a minha singela homenagem à cadelinha Bonnie. Minha "cãozinha" (como te chamava tantas vezes) - vou ter saudades do teu pelo, desses dentinhos de fora, da tua pequena língua e mesmo desse terrível hálito a cachorro. Sorrio sempre que te imagino a rosnar junto à porta da varanda pronta para ir ladrar aos cães que passam ou quando te pegavas com a arqui-rival Pantufa ali para os lados do Restaurante-Café Benfica.


À minha mãe o mais sincero agradecimento por tudo o que fez pela Bonnie. Não é de ficar orgulhoso em ter uma mãe assim?

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Ich bin ein bola de Berlim



Dizem os mais puristas da gramática alemã que o carismático presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy terá dito "Sou uma bola de Berlim!" em vez de "Sou um berlinense!" no seu famoso discurso em 1963, cerca de três meses antes de ser assassinado em Dallas no Texas. Quase 50 anos depois Marcelo Rebelo de Sousa, o político-comentador televisivo, revitaliza o célebre discurso num vídeo em estilo caseiro que supostamente deveria sensibilizar os alemães para o esforço brutal a que estão sujeitos os portugueses devido às medidas de austeridade e ao desdém da Alemanha para com uma nação esforçada com quase 40 anos de democracia.  


A famosa bola de Berlim em Portugal, sonho no Brasil e pączki na Polónia


Não aprecio discutir política, quem me conhece sabe-o bem, mas os pedidos de familiares e amigos no Facebook para partilhar o "vídeo proibido" de Marcelo Rebelo de Sousa requerem um momento de reflexão e uma explicação para o motivo pelo qual não me dão ganas de partilhar o dito "Ich bin ein Berliner" Made in Portugal.

Vi no Youtube a produção da NextPower que supostamente deveria ser mostrada na Alemanha, na Praça Sony em Berlim. Diz alguma da imprensa portuguesa que foi proibido ou seja, alvo de censura. Segundo os alemães o motivo para esta decisão prende-se com o carácter politizado da mensagem que, no seu entender, não é apenas uma demonstração do que é Portugal nem tampouco o de provar que não somos preguiçosos. O senhor embaixador da Alemanha em Portugal através da chefe da secção de imprensa e cultura da Embaixada da Alemanha, Annette Ludwig, reitera que a transmissão "não pode ter sido 'impedida' pela Embaixada", lembrando que "todos os órgãos oficiais alemães defendem a liberdade de opinião e de informação".


Então como entender este aparente atentado contra a liberdade de informação? Visualizei o vídeo de 4:45 minutos para formar uma opinião. Opinião esse que (devo assinalar) pela distância a que me encontro e pelo facto de não ir a Portugal há uns anos, é porventura diferente daqueles que estão a sofrer directa e indirectamente com os planos da Troika para Portugal.

Filmado em Lisboa, junto ao Padrão dos Descobrimentos, símbolo da nossa gloriosa História e do período áureo dos descobrimentos que por um lado nos tornou um império e alargou as nossas fronteiras para um tamanho incomparável àquele de Portugal continental por outro também foi destruidor de mundos, culturas milenares e sábias existentes nos territórios que viríamos a chamar de colónias - tudo em nome de Deus e da Coroa portanto absurdamente justificável e lógico no contexto histórico da época. 



O vídeo começa em 1974 com a revolução dos cravos que pôs fim a uma ditadura bafienta e sufocante que, por muito que sejam contra, usou a tortura e a opressão contra a oposição sendo o assassinato de Humberto Delgado e as perseguições aos membros das células do Partido Comunista Português, prova cabal disso.

Melhoramos as condições de vida dos portugueses, a alfabetização, a taxa de mortalidade infantil e a esperança de vida tudo sem recurso ao Plano Marshall. Aqui começa a primeira não-verdade do vídeo. Recebemos sim: entre 1950 e 1951 recebemos 70 milhões de dólares tanto como a Áustria e uma simples pesquisa na Internet não só prova isso como ainda nos brinda com interessantes cartazes de propaganda americana sobre a generosidade dos norte-americanos para com uma Europa destruída e desmoralizada.



Depois passamos ao mea culpa pelo modo como gastamos ou esbanjamos dinheiro onde vemos uma senhora na casa dos seus sessenta a mostrar um cartão de crédito enquanto ao lado esquerdo vemos um BMW série 5. Afinal 41,3% do parque automóvel português são viaturas Made in Germany. Pois... que culpa temos nós da qualidade dos VW, Audi, BMW, Porsche e Mercedes? E porque têm eles de agradecer o facto de muitos de nós lhes andarmos a comprar carros usados com mais de 200.000 km que depois aparecem à venda com 68.999?

As parcerias com Portugal... os alemães são uns mal-agradecidos... A Siemens passou-nos a perna depois de instalarmos uma rede de fornecimento de energia para veículos elétricos sem os ditos estarem construidos (com certeza que alguém beneficiou com a negociata) e ainda lhes andamos a comprar submarinos Trident ao custo de biliões de € mais as negociatas com a construção de estádios para o Euro 2004. E com isto tivemos de cortar com a despesa pública, no elo fraco, a classe-média - essa vaca leiteira que é ordenhada até cair prostrada. Do bebé ao idoso todos saíram prejudicados mas talvez pensem mal de nós e nos vejam como uma espécie de Brasil europeu onde a tristeza é esquecida com o Carnaval e com festas populares ou será que deveriam ter referido com futebol, telenovelas e a Casa dos Segredos? Melhor não -  a Casa dos Segredos passa na TVI e nesse canal televisivo o autor, o político-comentador Rebelo de Sousa, retira o seu cheque regularmente.

Portanto trabalhamos mais horas, vamos para pensionistas aos 67 e não temos tantos dias de férias e feriados como os alemães mas eles deveriam saber que somos trabalhadores árduos mas mal pagos. Deveriam saber que além disso pagamos muito mais impostos e quando protestamos nas ruas até abraçamos a polícia de intervenção. Chegamos à conclusão que os alemães controlam as regras do jogo na UE, que têm poder e são uma potência mundial., que podemos fazer senão baixar as orelhas e pedir aos alemães que "metam cunha", que se lembrem de nós, povo, e esqueçam a corja de bandidos que vilipendiaram Portugal e foram engordando desde a década de 70 até hoje?

Porque não um vídeo mais esclarecedor - aos alemães à Europa e ao mundo - da classe política eleita pelo povo (que confiou e depositou a sua esperança neles) sobre as negociatas, os absurdos da corrupção do Estado português e de muitos dos seus políticos, do despesismo estapafúrdico com tantos projectos megalómanos como o TGV, o novo aeroporto e novas auto-estradas. Perdemos noção dos escândalos envolvendo dinheiros públicos, dos casos de compadrio entre privados e o Estado. Do "fax de Macau" passando pelo BPN ao escândalo Freeport são centenas! E a culpa é de quem?

É por demais evidente que o problema é sobretudo político e a intenção do vídeo é porventura necessária no contexto de desmoralização e pessimismo em que se vive correntemente. Temos de levantar a cabeça! A Alemanha ganhou poder pela incompetência política de muitos dos seus parceiros da UE e não somos excepção. Antes de tudo há que desmontar Portugal começando pelo desmantelamento das máquinas partidárias e da bipolarização do governo em PS e PSD-CDS. Descentralizar para aliviar o Estado dos "tachos" das juntas de freguesia e da mentalidade do "emprego como funcionário público que é seguro e serve para toda a família". Investigar e prender os políticos que enriqueceram do dia para a noite, os altos funcionários públicos e gestores que usam e abusam do erário público, dos privilégios, investigar os deputados da Assembleia da República que vendem pareceres das leis que eles próprios criam, as ligações entre a banca e o Estado.


Se temos tudo aquilo que têm os alemães mais um país com uma gastronomia e paisagens fantásticas porque motivo eles chegaram onde chegaram e nós não? Quem está mal? Quem é realmente o verdadeiro culpado?



Memorandum passa a "Um outro blogue"

Porque não me sentia confortável com o título do blogue "Memoradum" - a lembrar politiquice em vez de recordações ou factos assinaláveis e dignos de memória - mudei-o para "Um outro blogue". 

Fica assim, a meu ver, mais em consonância com o Um português na Polónia e é de facto o meu outro blogue; afastado da Polónia e da minha experiência de vida com os polacos. O endereço não se altera ricardotaipa.blogspot.com/ - só mesmo o título. 

O meu agradecimento a todos os meus os leitores e um bem hajam!

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Cápsulas e coisas perdidas no tempo



Miss Belvedere


Em 1957 um Plymouth Belvedere 0 km a cheirar a novo foi fechado num sarcófago de betão para supostamente sair do mesmo modo no distante ano de 2007.



Há 50 anos atrás o belíssimo Belvedere branco e dourado foi enterrado numa campa de betão armado e embrulhado em papel especial no motor e na carroçaria. O objectivo seria transformá-lo numa cápsula do tempo para que as gerações vindouras soubessem como era a sociedade de Tulsa em 1957.
Junto com o veículo foram enterradas, uma grade de cerveja de uma fábrica local, mapas de Tulsa, um bidão de gasolina (diziam que em 2007 a mesma seria inexistente) fotografias várias, cartas de cidadãos e dos dirigentes locais e um microfilme que contém a resposta para o futuro proprietário do (velho) novo Plymouth Belvedere. O concurso dava como vencedor aquele que estiver mais próximo do número actual de habitantes de Tulsa, se não estiverem vivos em 2007, serão os herdeiros a levar para casa o Plymouth.










Assente em quatro preguiças e embrulhado para resistir a 50 anos debaixo da terra o outrora reluzente Plymouth estava completamente corroído e impossível de restaurar. O desapontamento dos organizadores era visível mas pelo menos o contentor com o microfilme e as mensagens estava impecável. 


O vencedor foi um homem que em 1957 passava por Tulsa e por acaso concorreu, deixando o seu palpite. O legitimo proprietário do carro morreu com cancro em 1979 e não teve filhos, a sua esposa morreu em 1988. O herdeiro trata-se de um sobrinho deste senhor que, de acordo com o tablóide Tulsa News, irá levar o Plymouth numa Road Trip (de reboque) até Nova Jérsia de modo a que seja desenferrujado por a firma Ultre One que vende um "milagroso" removedor de ferrugem:



O novo dono do Plymouth afirma que não será um restauro mas sim uma limpeza...


 O pombo-correio inglês 

David Martin um pensionista britânico decidiu que havia chegado a hora de fazer obras na lareira e chaminé da sua casa em Surrey. Ao começarem os trabalhos uma quantidade assinalável de sujidade e dejetos trouxeram consigo o esqueleto de um pombo-correio prontamente identificado pelo pequeno canudo numa das patas. Para surpresa do locatário o canudinho vermelho continha uma mensagem codificada ao estilo Código de Da Vinci e a informação que a ave havia nascido no ano de 1940, em plena II Grande Guerra.

Fonte: http://www.dailymail.co.uk/news/article-2226203/Skeleton-hero-World-War-II-carrier-pigeon-chimney-secret-coded-message-attached-leg.html?ito=feeds-newsxml

De acordo com os historiadores os pombo-correio foram de grande utilidade durante o conflito e terão sido lançados mais de 250.000 com mensagens secretas. A velocidade de 1 milha por minuto destas aves e o seu sentido de orientação permitiam que atravessassem as linhas do inimigo com informações cruciais para os militares e serviços secretos. Este herói alado terá sido lançado no Dia D e por motivos desconhecidos (cansaço, inalação de fumos tóxicos) pereceu na chaminé sendo encontrado 67 anos depois nesta nossa sociedade tecnologicamente avançada que quase instantaneamente divulgou na Internet a sua heroica tarefa e missão.

Dentro do canudo encontrava-se uma mensagem codificada - que está a fazer as delicias dos aficionados - de 27 códigos com uma combinação cinco números e letras enviada por "Sergeant W. Stott" para o destinatário XO2 que se supõe ser o Quartel General  de Bletchley Park em Buckinghamshire.

Por enquanto especula-se o teor da mensagem mas tudo aponta para que estivesse relacionado com o desembarque na Normandia. Esperemos que a tal sociedade tecnologicamente avançada deslinde o mistério de tempos em que ainda se escreviam cartas com tinta e papel e onde os telefones eram considerados um bem de luxo. 


O Pontiac Bonneville Safari perdido nas areias da Califórnia


Fonte: http://hooniverse.com/2012/06/11/hooniverse-modern-art-monday-a-1964-pontiac-bonneville-wagon-as-still-art/


Nos anos 60 o automóvel Made in USA tinha de ser cromado, enorme, largo, comprido e de preferência com um motor V8 acoplado a uma pachorrenta caixa automática. O Pontiac Bonneville tinha tudo isto mais uma área de carga que tornava as station wagon americanas autênticas cavernas motorizadas.

O carro em questão apareceu um dia destes numa praia californiana mais propriamente em Morro Bay Califórnia na praia de Sand Spit. Supõe-se que terá sido abandonado (perdido, roubado ou esquecido) no ano de 1973 - de acordo com Mike Baird o autor das fotos e descobridor do achado. 

Fonte: http://www.oldcarbrochures.com

Pouco ou quase nada se sabe sobre o automóvel. Especula-se que algures nos anos setenta o seu proprietário deixou-o na praia e nunca mais o viu. Sand Pit, pelo que apurei, é uma praia com características particulares onde as tempestades de areia e marés-vivas são frequentes. Eventualmente o patilhas boca-de-sino e camisola de gola alta que o conduzia ou estava cansado das avarias ou fumou uns canhões com uns amigos numa noite qualquer para no dia seguinte encontrar apenas o mar, areia e gaivotas.

Quase quarenta anos depois sobrevivem na carcaça corroída os para-choques cromados e algumas partes do interior em vinil, esse tecido tão típico dos anos 70.  O autor confirma que o Pontiac desapareceu dias depois engolido novamente pelas areias californianas. Será que só o iremos ver de novo em 2050? 




Meretricum antiquitatis*

Eventualmente um dos antepassados de Rocco Siffredi em jogos sexuais em Pompeia

A história de Pompeia é conhecida por muitos. Corria o ano de 79 d.c. quando o vulcão Vesúvio entrou em erupção enterrando em lava, cinzas e pedras a então populosa cidade de Pompeia. Só no século XVIII se procederam a escavações arqueológicas que revelaram em grande detalhe a vida dos seus habitantes e os seus últimos momentos – conservados em cinzas e muitos apanhados pela nuvem piroclastica semelhante, em parte, a uma explosão nuclear. Afastado do centro da urbe uma descoberta insólita, um lupanario vulgo bordel ou mais comumente uma casa de putas. 

O edifício perfeitamente conservado revela frescos eróticos e é constituido por dois pisos. De acordo com os historiadores o rés-do-chao seria para os clientes menos abastados e o piso superior para os que tinham mais Sestércios – não se sabe contudo se a qualidade das meretrizes era correspondente ao piso ou não mas supõe-se que sim. Aparte dos frescos os graffiti (inscrições nas paredes) são reveladores do tipo de frequentador de tais instalações; Hic ego puellas multas futui (Aqui **** muitas moças) ou Felix bene futuis (Sortudo, **** bem) entre outros. Eventualmente teriam sido escritos enquanto esperavam pela sua vez. 

O bordel com quase 2000 anos no cruzamento da Via dell’Abbondanza

Numa investigação feita por arqueólogos não se encontraram vestígios de portas ou mobiliário supondo-se que se houvesse algo para esconder as poucas vergonhas só mesmo cortinas que teriam sido destruídas pela erupção e pelo tempo e um colchão serviria de leito para as fornicações.

Não foram encontrados restos humanos no lupanário de Pompeia.

* Velha prostituta

Fonte: Wikipédia