Diz que tinha 6 anos e fazia uma caminhada com os seus pais quando uma borboleta pousou num dos dedos da sua mão ficando com ela por algum tempo, o suficiente para que, a partir de então, a passassem a chamar butterfly (borboleta). Os Hill são daquelas famílias que por vezes vemos no cinema. Viviam numa grande auto-caravana e o seu pai pregava o evangelho de cidade em cidade. Foi neste ambiente que cresceu Julia uma activista americana que ficou conhecida pela sua determinação em salvar uma sequoia com 1000 anos das serras dos madeireiros da Califórnia.
Capa do livro O Legado de Luna (The Legacy of Luna) |
Esta história ainda não passou para o grande ecrã apesar de algumas tentativas e intenções de algumas figuras em Hollywood. Dizem que em tempos de crise a história de uma heroína e activista pro-ambiental não vende. Foi adiado e esperam que algum mecenas possa disponibilizar os fundos necessários para o filme sobre Julia e a sequoia gigante que foi baptizada de Luna.
Tudo começou na realidade com um grave acidente de viação em Agosto de 1996 tinha Julia 22 anos. Sendo a única pessoa sóbria num grupo de amigos Julia conduzia tranquilamente quando um condutor alcoolizado embateu violentamente na traseira do veiculo. O volante partiu com o impacto da sua cabeça e perfurou-lhe o crânio. Foi só após um ano de recuperação e terapia que voltou a poder falar, caminhar e expressar-se naturalmente.
Este acontecimento foi o catalisador para a maior mudança da sua vida. Diz em entrevista que:
"Enquanto recuperava, percebi que toda a minha vida tinha estado fora de equilíbrio. Finalizei o ensino secundário aos 16 anos estando a trabalhando sem parar desde então, primeiro como empregada de mesa, depois como gerente de restaurante. Estava obcecada pela minha carreira, sucesso e coisas materiais. O acidente despertou-me para a importância do momento fazendo o que podia para ter um impacto positivo no futuro. (...) O volante na minha cabeça foi, figurativa e literalmente, o que me conduziu numa nova direcção da minha vida".
Foi então que Julia encetou uma road trip para a Califórnia interessando-se por um grupo pro-ambientalista ligado à musica reggae. Protestavam contra o crime ambiental dos madeireiros californianos e do gigante das madeiras a Pacific Lumber Co. propriedade de um magnata texano. Os protestos entre estes e os ambientalista haviam subido de tom e culminado com armas de fogo e uma tragédia onde a vida de um jovem de 20 anos foi interrompida. A descoberta de Luna foi por acaso e deu-se quando alguém notou a marca a tinta azul que significava "árvore para abate". O grupo montou prontamente uma pequena plataforma de 1.80x1.80 metros na árvore, a cerca de 55 metros de altura (o equivalente a um décimo quarto andar) e foi rodando entre si. Cada um ficava um ou dois dias mas a ideia era um voluntário que ficasse pelo menos uma semana para que o impacto nos media fosse mais visível. Julia subiu a sequoia e em vez de uma semana ficou dois anos seguidos.
Este braço de ferro entre a Pacific Lumber Co., os madeireiros e os ambientalistas foi um record. Julia viveu embrulhada em sacos-cama durante a invernia tendo apenas uma tenda que praticamente cobria a precária plataforma. A sua determinação chamou gradualmente a atenção para a necessidade de proteger as florestas antigas que outrora abundavam na América mas que pela ganância das grandes corporações e dos lobbies das madeiras foram sendo dizimadas. Durante esses dois anos a árvore foi sacudida por ventos fortíssimos do El Nino, por as pás dos helicópteros da Pacific Lumber Co. e Julia teve madeireiros a ameaçarem a sua integridade física e o corte de Luna caso ela não descesse. Durante dez dias uma empresa de segurança a mando dos madeireiros isolou Julia impedindo que lhe fizessem chegar provisões. Num documentário sobre a história de Julia (Adventures on Treesitting) a heroína refere as condições duras durante o Inverno com chuva gelada, vento e o isolamento ao estar confinada a um quadrado com menos de 2 metros. Um pequeno camping-gaz e um telemóvel a bateria solar foram dos poucos confortos que Julia levou para a gigantesca sequoia.
Vídeo com Julia Hill a descer Luna em Dezembro de 1999
Em 1999 sendo já visível no rosto e no corpo de Julia as consequências da sua longa jornada no topo da sequoia a Pacific Lumber Co. decidiu chegar a um acordo. Uma área-tampão (buffer zone) de cerca de 200 pés (60 metros) foi aceite a troco de 50.000 dólares angariados por diversas associações ambientalistas. O dinheiro foi posteriormente revertido para o estudo de florestas sustentáveis. Julia desceu Luna e não evitou o choro ao separar-se da sua milenar companheira de dois anos. Dizia não entender o que passa pela cabeça de alguém para cortar uma árvore como aquela. Nascia uma das maiores activistas para a protecção das florestas.
Luna, ficando isolada em terreno da Pacific Lumber Co., sofreu pouco depois um ataque. Em 2000 descobriram um profundo corte no seu tronco. Um puro acto de vandalismo que, felizmente, foi curado com aplicação de ervas na "ferida" aberta por gente sem escrúpulos e brutalizada. Cabos de aço e um colar em volta do tronco previnem que os ventos fortes derrubem Luna. A árvore recuperou e apesar de nunca se ter encontrado o culpados(s) este acontecimento marca o fim de uma luta de 15 anos para se preservar a floresta de Headwaters, agora um parque nacional que atrai milhares de turistas e que constitui apenas 3% do ecossistema original! [1]
Julia Butterfly Hill continua a sua luta. Foi presa e deportada do Equador quando tentava proteger uma floresta milenar da depredação causada pela construção de um pipeline e é uma das vozes activas contra o sistema de taxação fiscal dos EUA conhecido como IRS. A sua história foi inspiração para musicas, livros, documentários e sobretudo para outros ambientalistas.
Podem ler mais sobre Julia no seu site ofical: Julia Butterfly Hill
[1] http://www.circleoflife.org/inspiration/luna/
Fontes: Wikipédia e site da autora.
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